Fortalecendo produtores para fomentar produção de qualidade

A cooperativa Wiwanana foi constituída em 2021, com um capital social de 50.000,00, tendo comercializado 3.490 quilogramas (kg) de castanha e amendoim orgânicos para várias empresas.
REPORT.TEXT: Leonel Albuquerque - REPORT.PHOTOS: Leonel Albuquerque - 16. maio 2023

Na Vila Sede de Namapa, num percurso de cerca de 20 quilómetros mais para o interior da zona rural, há uma cooperativa agrícola que está a dar provas de sustentabilidade. É gerida por produtores e para produtores. Trata-se da cooperativa Wiwanana, onde as dinâmicas de aquisição e partilha de conhecimentos, tecnologias e insumos agrícolas se operam, incluindo a geração e distribuição da renda. É a expressão comunitária do cooperativismo moderno dos produtores familiares.

Localizada na Comunidade de Nakhole, tipicamente rural, a Cooperativa Wiwanana é um modelo de boas práticas agrícolas do projecto AMCANE (Amendoim, Caju e Pequenos Negócios Sustentáveis), na sua primeira fase, centrado na promoção da ligação entre os actores sistémicos do sector agrícola, nomeadamente, pequenos produtores, fornecedores de insumos, agentes de agro-negócios, processadores e comerciantes.

A cooperativa Wiwanana foi constituída em 2021, com um capital social de 50.000,00 (cinquenta mil) meticais, provenientes da contribuição dos produtores que desde a preparação da terra à comercialização trabalhavam, antes, dispersa e individualmente. Os produtores estavam divididos, numa comunidade caracterizada por terras argilosa e avermelhada e altamente produtiva.

A MIRUKU, uma cooperativa de agro-negócios baseada em Nampula e parceiro do projecto AMCANE desempenhou papel de relevo para a mudança de paradigma em Nakhole, ao prestar assistência técnico-jurídico aos produtores para a constituição da Wiwanana e, consequentemente, estabelecer um cenário de win-win para os produtores.

Actualmente com 23 membros (sendo 7 mulheres), os produtores exercem voz activa e poder de negociação perante as empresas com interesses na cultura do amendoim e da castanha de caju orgânicos, principais produtos cultivados pelos membros da Cooperativa Wiwanana, em campos de até 1 hectare.

Depois da entrada em funcionamento, ainda em 2021, a Wiwanana comercializou 3.490 quilogramas (kg) de castanha e amendoim orgânicos para várias empresas, dos quais 728 kg de amendoim com baixos níveis de aflatoxina para a empresa Goodtrade Moçambique, destinado ao fabrico da manteiga, em regime experimental.

Este ano, a empresa comprometeu-se a adquirir mais amendoim da cooperativa, uma promessa que anima aos produtores. O amendoim e a castanha orgânica são variedades com elevados benefícios para os consumidores, meio ambiente e para os próprios produtores que passaram a investir menos em adubos e agrotóxicos e a apostar mais em compostos orgânicos “bokashi”, biopesticidas e equipamentos, garantindo a melhoria da qualidade dos produtos agrícolas.

«Na cooperativa aprendo novas formas de cultivo tanto da castanha como do amendoim, já que a nossa zona favorece muito a estas duas culturas, respeitando as épocas. Com o aprendizado que adquiro na cooperativa, consigo melhorar a qualidade da minha produção agrícola»

Albertina Juma, membro da Cooperativa Wiwanana.

Albertina Juma, membro da cooperativa Wiwanana.
«Como membro activo da cooperativa eu tenho acesso às tecnologias melhoradas de produção de amendoim. Estando com outros produtores, eu tenho a oportunidade de trocar ideias para melhorar o cultivo e quando surge um cliente, todos nós que produzimos amendoim definimos conjuntamente o preço.»

António dos Reis, um dos membros da Cooperativa Wiwanana.

António dos Reis, um dos membros da Cooperativa Wiwanana.

A Goodtrade é um dos actores comerciais mais relevantes na comercialização de produtos naturais e orgânicos em Moçambique. Aliás, a promoção da produção agrícola orgânica é um dos principais objectivos do projecto AMCANE.

Contribuindo com 1 metical por cada kg de produto vendido

A Cooperativa Wiwanana tem estatuto próprio, devidamente reconhecida pelas autoridades governamentais. A sua estrutura comporta entre outras figuras, um presidente, Carlos Merlo, vice-presidentes, secretários, tesoureiros, fiscais e etc, que asseguram o funcionamento da organização, definem direitos e deveres juntamente com os membros. A inclusão é um distintivo e faz jus ao nome da cooperativa “nós nos entendemos” (Wiwanana). O órgão directivo é que gere os fundos que sustentam a cooperativa. Cada produtor contribui com valor de 1 (um) metical por kg comercializado a cada época produtiva.

«Quando aparece um cliente, como por exemplo, a Goodtrade, e diz que quer uma tonelada de amendoim, nós juntámos os nossos produtos devidamente ensacados, até atingirmos a quantidade pretendida e entregamos ao cliente. Quando recebemos o valor, distribuímos aos membros conforme a quantidade que cada um trouxe. E por cada quilo de amendoim ou castanha vendida, descontamos 1 metical, como quota de contribuição para o funcionamento da cooperativa»

explicou o Presidente, Carlo Merlo

Carlos Merlo (camisa azul), Presidemte da cooperativa juntamente com restantes membros.

Este valor de 1 (um) metical seria multiplicado por dezenas de vezes em contextos de cooperativas urbanizadas, das grandes cidades, mas em Nakhole, ainda se acredita que de grão a grão enche a galinha o papo.

«Todo este mobiliário, cadeiras, mesas, esteiras foi adquirida pela cooperativa graças a esta contribuição, incluindo a própria casa [de material precário] que dá corpo ao edifício da cooperativa»

esclarece Merlo

A cooperativa beneficiou-se, igualmente, de 2 máquinas para o descasque do amendoim, que também serve a comunidade, mediante o pagamento de 5 meticais por kg, valor que está a ser aplicado na amortização do equipamento facilitado pelo projecto.

Um "Presidente" integrado no programa agrícola nacional

Na verdade, Carlos Merlo não foi eleito presidente pela sua altura, imponente, não. Segundo os membros da cooperativa Wiwanana, Merlo é um líder campesino, inspirador que disponibiliza toda sua experiência e conhecimento no serviço da cooperativa. Desde 2019 que Merlo está envolvido em actividade do projecto AMCANE, tendo sido treinado em tecnologias melhoradas para a produção e comercialização de Amendoim e Caju.

«Elegemos Carlos como presidente porque envolve a todos nós nas actividades da cooperativa. Traz boas ideais para nós e faz gestão transparente do dinheiro da organização. Talvez seja por isso que até hoje nunca tivemos intrigas ou desentendimento»

explicou Moisés Fernando membro da cooperativa

Pelo seu bom desempenho na produção agrícola e a liderança da cooperativa, Carlos Merlo foi designado Produtor Agrícola Comercial Emergente, beneficiando-se de um trator atribuído a título de financiamento pelo Serviço Distrital de Actividades Económicas (SDAE) do distrito de Eráti.